O Depósito de Concentrados Alemães em Angra do Heroísmo, em síntese.

Iniciado a 1 de maio com o desembarque de 80 súbditos oriundos do continente, o capitão do vapor Sagres e o comandante da diligência de infantaria n.º 16 que os acompanhavam entregaram ao comandante militar dos Açores, General António Augusto Oliveira Guimarães, um envelope contendo um exemplar do Diário do Governo com o decreto da declaração de Estado de Sítio na Terceira, acrescido de instruções específicas para a concentração e governo da ilha. Dado conhecimento às autoridades civis e marítimas, ficou o comandante de infantaria 16, Álvaro Viana de Lemos, a aguardar ordem de um regresso tido como certo.

Estavam os alemães, por vontade própria, organizados em três classes sociais, e em maior número que o aguardado, dadas as precárias informações recebidas via cabo telegráfico. A necessidade de os acomodar criou de imediato duas importantes questões: onde, por classes e o que fazer para evitar um excessivo contato ente cativos e captores? A solução residiu na saída de unidades/órgãos militares da fortaleza, assim como das famílias dos militares e em especial do Comando Militar dos Açores. Ainda nesse 1 de maio, foram dadas ordens aos Comandos Militares de Ponta Delgada e Horta para que iniciassem a concentração nas restantes duas ilhas, de acordo com as indicações recebidas pelo Sagres, que zarpou de regresso no dia seguinte já com três exceções, por indicação do Ministério da Guerra, uma delas em idade militar. 

Subsequentemente, o Depósito de Concentrados Alemães (DCA) recebeu prisioneiros de todo o império, à exceção de Macau e Timor, destacando-se um conjunto de levas até ao outono de 1916, complementadas por pequenos grupos, já em 1917, alguns oriundos dos extintos depósitos coloniais em Goa, Angola e Moçambique. Até novembro de 1919, transitaram pelo Depósito de Concentrados Alemães em Angra do Heroísmo 763 internados, incluindo mulheres e crianças. 

A 13 de maio de 1916 eram cerca de 300 súbditos alemães espalhados pelas três principais ilhas do arquipélago, sendo já 90 na ilha Terceira a 13 de junho. Durante o mês de agosto chegaram 124 elementos da Madeira e 195 de Cabo Verde; 88 do Faial e 86 de Lisboa e Porto. Durante os meses de verão chegaram pequenos grupos oriundos de São Miguel (26), Madeira (22) e Cabo Verde (3). A recolha ordinária ficou completa a 30 de agosto, aguardando-se, contudo, a chegada de mais prisioneiros e do material de aquartelamento, há muito solicitado. Ao ministro da guerra, o Comando Militar dos Açores refere uma disciplina extraordinária a um dos concentrados, pelo que seria de contar com hostilidade em caso de um golpe de mão à ilha, provocado por uma equipa de assalto alemã, a partir de um submarino. Estando a ilha numa situação anormal, a atenção teria que ser redobrada quer no aprisionamento quer na defesa geral, o que implicava o reforço de miliares, inclusive a partir de Ponta Delgada.

Em 29 de setembro eram já 515 os concentrados em São João Batista, aguardando-se um novo desembarque pelo cais da Figueirinha, tal como em abril e outubro de 1917. A 9 de agosto de 1918 eram 715 os concentrados em Angra do Heroísmo, iniciando-se a fase de declínio: a 15 de janeiro de 1919 eram 653 e em finais de outubro, 596. Pelo Lothar Bohlen embarcam rumo a Lisboa, Faial, Madeira e Alemanha 510 ex-prisioneiros, ficando apenas quatro súbditos na ilha Terceira. Do recenseamento geral à saída, sabe-se que dos 736 prisioneiros que transitaram pelo DCA, 728 eram exteriores à ilha e oito nasceram em cativeiro; que catorze faleceram e seis regressaram ao DCA após transitarem por outras unidades e que 722 partiram, a grande maioria para Hamburgo. 
Quem eram os súbditos alemães? Eram civis que trabalhavam em território português ou então tripulações cujas embarcações haviam sido apreendidas em fevereiro de 1916. São industriais, comerciantes, professores, comandantes e engenheiros, domésticas, marinheiros, fogueiros, artesãos, entre outros. São famílias com crianças e idosos, que optaram por não se separar. São em muitos casos alemães casados com portuguesas e com filhos, considerados alemães à semelhança do pai. Com um universo em 87% de trabalhadores, verificaram-se apenas 70 casos de pessoas sem ocupação profissional, nomeadamente mulheres e crianças. Curioso também será o facto de apenas se conhecerem mulheres oriundas do continente, tal como as crianças, desconhecendo-se entradas procedentes das colónias. 

FONTE: JORNAL CORREIO DOS AÇORES DE 26 JAN 2020

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