Angra do Heroísmo – o Passado

O local escolhido pelos primeiros povoadores foi uma crista de colinas, que se abria, em anfiteatro, sobre duas baías, separadas pelo vulcão extinto do Monte Brasil. Uma delas, a denominada “angra”, tinha profundidade para a ancoragem de embarcações de maior tonelagem, as naus. Tinha como vantagem a proteção de todos os ventos, excepto os de Sudeste.

As primeiras habitações foram erguidas na encosta sobre essa angra, em ruas íngremes de traçado tortuoso dominado por um outeiro.

Angra do Heroísmo – o Passado

Em poucos anos, desde 1478, a povoação foi elevada à categoria de vila e, em 1534, no contexto dos Descobrimentos, foi a primeira do arquipélago a ser elevada à condição de cidade. No mesmo ano, foi escolhida pelo Papa Paulo III para sede da Diocese de Angra com jurisdição sobre todas as ilhas dos Açores.

As razões para esse vigoroso progresso deveram-se à importância do seu porto como escala da chamada Carreira da Índia, centrado na prestação de serviços de reabastecimento e reaparelhamento das embarcações carregadas de mercadorias e de valores. Por essa razão desde as primeiras décadas do séc. XVI aqui foi instalada a

Provedoria das Armadas.

Posteriormente, no contexto da Dinastia Filipina, a estes vieram juntar-se os galeões espanhóis carregados de ouro e prata, oriundos das Índias Ocidentais, numa rota que se estendia de Cartagena das Índias, passava por Porto Rico e por Angra, e alcançava Sevilha. Para apoiar essas fainas, foram implantados os primeiros estaleiros navais, na Prainha e no Porto das Pipas, e as fortificações que fecham a baía: o chamado Castelo de São Sebastião e o de São João Baptista.

A cidade, mais de uma vez, teve parte ativa na história de Portugal: à época da Crise de sucessão de 1580 resistiu ao domínio Castelhano, apoiando António I de Portugal que aqui estabeleceu o seu governo, de 1580 a 1582. O modo como expulsou os espanhóis entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil em 1641 valeu-lhe o título de “Sempre leal cidade”, outorgado por João IV de Portugal.

Posteriormente Angra constitui-se na capital da Província dos Açores, sede do Governo-geral e em residência dos Capitães-generais, por Decreto em 1766, funções que desempenhou até 1832. Foi sede da Academia Militar, de 1810 a 1832.

 No séc. XIX, Angra constitui-se em centro e alma do movimento liberal em Portugal. Tendo abraçado a causa constitucional, aqui se estabeleceu em 1828 a Junta Provisória, em nome de Maria II de Portugal. Foi nomeada capital do reino por Decreto de 15 de Março de 1830. Aqui, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), Pedro IV de Portugal organizou a expedição que levou ao desembarque do Mindelo. E aqui promulgou alguns dos mais importantes decretos do novo regime, como o que criou novas atribuições às Câmaras Municipais, o que reorganizou o Exército Português, o que aboliu as Sisas e outros impostos, o que extinguiu os morgados e capelas, e o que promulgou a liberdade de ensino no país.

Em reconhecimento de tantos e tão destacados serviços, o Decreto de 12 de Janeiro de 1837 conferiu à cidade o título de “mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo”, e condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada.

A cidade sempre teve forte tradição municipalista, e a sua Câmara Municipal foi a primeira do país a ser eleita, já em 1831, após a reforma administrativa do Constitucionalismo (Decreto de 27 de Novembro de 1830).

 Angra do Heroísmo – o Presente

A cidade de Angra do Heroísmo é testemunho vivo do virar de Página que representou  o abandono dos modelos de viver e construir medievais, em favor do que de novo e moderno traziam a Renascença e os Descobrimentos.

Testemunho que não se refere apenas ao momento criador da urbe, mas também ao papel desempenhado durante os séculos posteriores na história da expansão europeia.

 UNESCO – Património Mundial

Angra do Heroísmo é uma cidade portuguesa e atlântica, protagonista dos Descobrimentos e da expansão marítima que fez da Terra uma só, fazendo história na expansão europeia.

A herança história, associada à qualidade e originalidade da traça urbana e à persistência de um notável conjunto edificado, valeram-lhe a denominação de Cidade Património Mundial, a 7 de Dezembro de 1983, a primeira cidade portuguesa com esta classificação.

Angra do Heroísmo – o Futuro

Os principais desafios são:

Angra, uma cidade com vida e ativa.  Requalificação do Centro Histórico; Requalificação dos espaços verdes; Angra, Cidade Inteligente;

Urbanismo comercial;

Eficiência energética;

Turismo;

Juventude.

 Angra, uma cidade com vida e ativa

Há que dinamizar a cidade através de uma nova política que procura a requalificação da cidade existente desenvolvendo estratégias de intervenção múltiplas e destinadas a potenciar os valores culturais, socioeconómicos, ambientais e funcionais da área urbana de forma a elevar substancial e sustentavelmente a qualidade de vida dos residentes.

Angra não deverá ser uma montra estática, mas sim um quadro cheio de vida, convidativo para a vivência familiar, e a quem nos visita, mas também à atractiva para a instalação de novas empresas.

Requalificação do Centro Histórico

Melhoria dos pavimentos, em particular das calçadas do centro histórico, adotando as modernas tecnologias de substituição de pavimentos e criando, quando adequado, galerias técnicas para as infraestruturas enterradas.

Promover soluções adequadas para os imóveis arruinados ou devolutos integrados na malha urbana classificada.

Operacionalizar o projecto “A minha rua”.

Operacionalizar um plano de melhoria das acessibilidades para as pessoas com mobilidade reduzida.

 Requalificação do Centro Histórico

Criar condições de estacionamento, trânsito e acessibilidade pedonal que potenciem o comércio e os serviços na zona central da cidade.

Liderar o combate à infestação por térmitas.

Apoiar os proprietários de imóveis nos processos de certificação da infestação por térmitas e na obtenção dos apoios legalmente previstos.

 Requalificação dos espaços verdes

Criação de uma infraestrutura verde na cidade e zonas rurais, numa abordagem à gestão das áreas verdes desenvolvida à escala da paisagem.

Criação de uma cintura verde urbana, acessível através de percursos pedestres.

 Requalificar e ampliar o Jardim Duque da Terceira, integrando um programa de animação cultural e de educação ambiental.

 Requalificação dos espaços verdes

Em parceria com os clubes das várias modalidades de desporto de ar livre elaborar uma carta concelhia de desporto de natureza.

Candidatura ao programa LIFE+ Nature, para proteção das aves marinhas que nidificam no Monte Brasil (garajau rosado e cagarro).

Angra, Cidade Inteligente

Investir no conceito de Smart City fomentando a criatividade, o empreendedorismo e a utilização de tecnologias de informação e comunicação.

Promover a cobertura com rede de internet Wi –Fi dos principais espaços públicos no centro histórico e dos principais espaços verdes e zonas de lazer urbanos do concelho.

Promover o concelho através dos novos canais multimédia disponíveis.

Participar na criação e dinamização do Parque Tecnológico da Terceira.

 Urbanismo comercial

Em parceria com entidades públicas e privadas, investir na revitalização do comércio tradicional e na melhoria do urbanismo comercial no centro histórico.

Fomentar a criação de eventos sazonais de animação especificamente voltados para as necessidades do comércio.

Abertura de novos espaços de venda para pequenos produtores de produtos alimentares frescos e tradicionais e plantio, incluindo a criação de espaços de excelência para a divulgação e comercialização do artesanato local.

Fomentar mercados e feiras tradicionais no centro histórico.

Eficiência Energética

Fomentar a eficiência energética e a redução de custos com energia.

Proceder à certificação energética dos edifícios municipais.

Fomentar o aproveitamento dos resíduos florestais e da biomassa para utilização industrial, pellets e iniciativas similares.

 Turismo

 Fomentar a valorização das festividades tradicionais e a sua inclusão no roteiro de visitação do Concelho.

Melhoria da oferta de informação turística em articulação com entidades públicas e operadores turísticos.

Valorizar e dar a conhecer o artesanato local como manifestação da cultura e da criatividade terceirense.

Melhorar a sinalização e divulgação dos monumentos e outros pontos de interesse cultural, incluindo o Parque Arqueológico da Baía de Angra.

 Turismo

 Revitalizar a cooperação e intercâmbio com as cidades com as quais Angra se encontra geminada ou mantém parcerias.

Procurar ativamente geminações e parcerias com cidades com características e interesses similares, em particular com cidades que tenham áreas integradas na lista do Património da Humanidade, cidades taurinas e cidades com ligações históricas a Angra ou à expansão europeia, não ignorando que Angra, através da sua Diocese, manteve fortes ligações com a Índia, China, Timor, Angola e outras regiões do mundo.

Juventude

Criação do projecto “Jovens Embaixadores do Património”.

Manter um programa de receção de jovens que se encontrem integrados nas diversas modalidades de programas de estágio regionais, nacionais e internacionais.

Fomentar programas de voluntariado.

Apoiar a realização de campos de férias temáticos, incluindo os destinados a estudantes do ensino secundário e superior.

 Créditos do texto:

Raquel Caetano Ferreira

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Angra - 40 anos de cidade Património da Unesco

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