Empresa californiana LeoLabs anunciou que vai instalar dois radares espaciais na ilha de Santa Maria para monitorizar e evitar os perigos do lixo espacial. Portuguesa Edisoft é parceira e construção fica concluída em 2022. Objetivo: monitorizar até 250 mil objetos na baixa órbita terrestre.
um dos maiores problemas que pode afetar no futuro os voos comerciais, a exploração espacial e o uso de satélites e das suas capacidades várias. Os detritos ou lixo espacial que mantém-se na órbita terrestre tem crescido vertiginosamente e estima-se que seja agora de mais de 26 mil objetos, pelo menos aqueles com capacidade de serem monitorizados - estima-se que existem 900 mil objetos com menos de 1 cm. Desses, mais de 2800 são objetos espaciais funcionais e em atividade, a maioria satélites, mas a maioria são verdadeiro lixo espacial. Uma colisão com um objeto de 10 cm pode ser catastrófica para qualquer nave ou avião, mas mesmo colisões entre objetos abandonados pode ser prejudicial para certas zonas do planeta.
Neste contexto, a empresa californiana LeoLabs (criada em 2016 em Silicon Valley) que diz ser líder mundial no fornecimento de serviços de mapeamento da órbita terrestre baixa e de Perceção da Situação no Espaço, anunciou que irá instalar nos Açores, mais precisamente na ilha de Santa Maria, o seu próximo radar espacial.
A nova aposta é considerada pela empresa de estratégica na expansão da constelação global de sensores da LeoLabs, com os dois radares espaciais que vão ser instalados no Açores com o apoio do consórcio português Edisoft (que controla o Teleporto de Santa Maria) a entrarem em funcionamento no início de 2022.
O valor do investimento total não foi revelado, mas as obras vão começar em breve, indica a empresa ao Dinheiro Vivo, com as estruturas a serem construídas por dezenas de pessoas da ilha e outras externas. "São quatro estruturas semelhantes a um tubo cortado semelhante ao que temos na Costa Rica com tamanho de 75 x 100 metros, com seis metros de altura".
Em comunicado, o CEO e cofundador da LeoLabs, Dan Ceperley, admite "entusiasmo com a decisão de nos instalarmos nos Açores" e garante que "este é um investimento de várias décadas, e uma grande oportunidade para a LeoLabs apoiar os objetivos de sustentabilidade espacial de Portugal, à medida que eles expandem a sua presença na comunidade espacial mundial."
"O número de ativos que existem na baixa órbita terrestre duplicou no ano passado, irá duplicar este ano, e espera-se que cresça 25 vezes nos próximos cinco anos" e a LeoLabs que crescer à boleia desses novos investimentos "como o maior fornecedor de dados mundial nessa área".
A missão da empresa californiana passa por "ajudar no crescimento da economia da órbita terrestre baixa e assegurar a sobrevivência dos serviços de mapeamento da órbita terrestre baixa no longo prazo e para as gerações futuras". Dan Ceperley explica depois que a rede global da LeoLabs "já fornece o maior número de observações da órbita terrestre baixa do mundo e o Radar Espacial dos Açores virá reforçar essas observações e expandir a capacidade de localizar objetos em mais 25%".
Ou seja, a empresa passa da monitorização de objetos em órbita terrestre baixa dos atuais 15 mil para 250 mil objetos rastreados. "O Radar Espacial dos Açores irá rastrear objetos até dois centímetros que nunca foram rastreados antes e que representam a grande maioria do risco de colisão" na tal órbita terrestre baixa.
Portugal dá as boas vindas ao radar espacial
Ricardo Conde, Presidente da Agência Espacial Portuguesa, a Portugal Space, admite em comunicado que o investimento da LeoLabs no Radar Espacial dos Açores reflete o alinhamento com a estratégia portuguesa para o espaço a nível nacional e regional. "Damos as boas vindas à LeoLabs a Portugal com a instalação de um novo radar espacial nos Açores", explica Conde, que admite que a órbita terrestre baixa "assumiu-se rapidamente como uma esfera de oportunidades de negócio para empresas inovadoras".
Daí que o objetivo seja "construir infraestruturas que permitam mitigar os riscos gerados pelo aumento de detritos espaciais", com o radar a permitir "melhorar os serviços de mapeamento e catalogação que identificam o posicionamento e a dinâmica destes objetos e contribuir para aumentar a nossa capacidade de definir políticas que abordem esses riscos."
Susete Amaro, Secretária Regional da Cultura, Ciência e Transição Digital dá as boas-vindas "a este investimento pioneiro nos Açores", no que define de uma "importante contribuição para o desenvolvimento do ecossistema espacial de Santa Maria". Aí tem destaque o Teleporto de Santa Maria, "um modelo inovador capaz de atrair investimentos internacionais do setor espacial". Com o compromisso a longo prazo da LeoLabs, a responsável espera "que os Açores se tornem uma ponte para o espaço tal como são uma ponte sobre o Atlântico".
O mesmo fez o Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que tem lançado vários projetos estratégicos na área espacial nos últimos anos - incluindo a própria Portugal Space.
Existem cerca de 250 mil objetos de detritos orbitais que não estão a ser rastreados pelos sistemas governamentais, incapazes de acompanhar os crescentes riscos para as constelações de satélites
Das oportunidades aos riscos em área por explorar
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A LeoLabs destaca depois que a baixa órbita terrestre está a emergir rapidamente como a fronteira comercial no espaço, numa perspetiva menos mediática mas mais próxima de fazer a diferença. "A rápida implantação de novas constelações de satélites, a procura de serviços inovadores com base em imagens de satélite até à banda larga para a IoT (Internet das Coisas), e os biliões de dólares de novos investimentos em infraestruturas espaciais estão a redefinir um domínio partilhado por governos, agências espaciais, reguladores, operadores comerciais, e seguradoras espaciais", indica a empresa no que chama de "cenário de oportunidades comerciais sem precedentes".
Aí são destacadas duas ameaças que ensombram o investimento e a viabilidade a longo prazo da baixa órbita terrestre. O primeiro desafio passa pela necessidade de desenvolver projetos de forma sustentável, enfrentando os riscos criados pelos detritos espaciais - "existem cerca de 250 mil objetos de detritos orbitais que não estão a ser rastreados pelos sistemas governamentais, incapazes de acompanhar os crescentes riscos para as constelações de satélites". A empresa pede que os reguladores estabeleçam as melhores práticas internacionais, standards e regras de funcionamento para ajudar operadores a evitar a acumulação sem cuidado dos tais detritos.
Depois, um segundo desafio crítico mencionado para a viabilidade a longo prazo da baixa órbita terrestre "é mantê-la aberta e segura". Com o aumento do número de empresas privadas e de países que exploram o espaço, onde Portugal começa a procurar ter um papel e onde se destacam empresas como a Neuraspace, do CEO do unicórnio português Feezai Nuno Sebastião, é preciso "acompanhar e tornar transparente toda a gama de ameaças a um ambiente espacial aberto".
Défice de dados por resolver
No que chama de um "défice de dados" claro existente nesta área de baixa órbita terrestre, Dan Ceperley destaca que o Radar Espacial dos Açores representa um contributo crítico para a resolução destes desafios não só pela localização estratégica no Atlântico, mas porque permite aumentar a frequência e rapidez das observações feitas para minimizar potenciais eventos na baixa órbita terrestre como colisões, ruturas, manobras, novos lançamentos, e reentradas.
A empresa explica depois que o investimento que começa agora é um elemento-chave de infraestrutura para informar os operadores de satélites, as agências de defesa, as agências espaciais, os organismos reguladores, e o setor de seguros espaciais.