A pandemia da covid-19 provocou desemprego e redução de horários em vários setores, mas há também quem tenha visto o seu volume de negócios aumentar, como aconteceu com algumas empresas no Terceira Tech Island, nos Açores.

“Tivemos clientes a aumentar mais de 10 vezes a utilização que tinham da DocDigitizer e tivemos, em termos de novos clientes, um aumento cinco vezes superior àquilo que era o normal antes”, adiantou, em declarações à Lusa, Jorge Pereira, administrador do grupo Joyn, que instalou duas empresas na ilha Terceira, a Infosistema e a DocDigitizer.

Iniciado em outubro de 2017, o projeto Terceira Tech Island, promovido pelo executivo açoriano, tem como objetivo criar um polo de empresas tecnológicas na ilha Terceira, mitigando o impacto económico da redução militar norte-americana na base das Lajes.

Em menos de três anos, cerca de 170 pessoas (maioritariamente jovens) receberam formação em programação e a maioria foi contratada pelas perto de duas dezenas de empresas tecnológicas que já se fixaram na ilha.

A pandemia da covid-19 fechou os escritórios, instalados em antigos espaços de comércio tradicional no centro da Praia da Vitória, mas o trabalho não parou.

A DocDigitizer recorre à inteligência artificial e ao ‘machine learning’ para tornar mais rápido o processo de análise e interpretação semântica dos documentos, uma ferramenta que ganhou maior importância quando as empresas se viram forçadas a fechar.

“Em algumas das nossas operações na DocDigitizer, a pandemia representou um aumento muito significativo da procura pelas nossas soluções, sobretudo pelo facto de as empresas e instituições estarem a ter agora enormes dificuldades em lidar com a falta de pessoal”, revelou Jorge Pereira.

O administrador da Joyn não tem dúvidas de que a pandemia veio “apenas acelerar” um processo de transformação digital, “essencial para a competitividade da economia”.

“A transformação digital deixou de ser um plano a médio prazo, para passar a ser uma questão de sobrevivência operacional e financeira das empresas. É especialmente impactante até para as PME [Pequenas e Médias Empresas], mais do que para as empresas de grande dimensão, porque esta tendência irá acentuar-se nos próximos meses”, frisou.

A ideia é partilhada por Carlos Alves, diretor executivo da Bring, que considera o setor das novas tecnologias “seguro”, mas ao mesmo tempo “desafiante”, pela “velocidade em que o mundo se transforma”.

“Há duas apostas que são inevitáveis: no sentido lato a aposta na tecnologia, depois tudo o que tem a ver com digitalização de processos, de interação com os clientes, tudo o que esteja relacionado com dados hoje é indissociável”, apontou.

As reações dos clientes da Bring à pandemia foram distintas: as empresas de primeiro segmento “abandonaram alguns projetos”, mas houve também quem arrancasse com novos trabalhos.

“Não houve alterações significativas entre a oferta e a procura, houve sim alguns clientes que naturalmente suspenderam alguns projetos, mas nada muito impactante”, afirmou o responsável.

Olga Duarte, diretora executiva da ForTrevo, admite que as empresas não tenham atualmente “capacidade para apostarem e para acreditarem” na modernização tecnológica, mas está confiante de que o volume de trabalho na área tecnológica vai aumentar quando a pandemia passar.

“Finalmente as empresas veem que uma presença 'online', seja ela pequena ou grande, vai-lhes fazer diferença, não só numa situação de pandemia, mas para verem que as pessoas gostam do conforto de estarem em casa e acederem aos sites para verem a oferta de cada uma destas empresas”, salientou.

Embora reconheça algumas dificuldades em angariar novos clientes nesta fase, disse que os projetos que já estavam iniciados não pararam e que os clientes estão até a “inovar mais”.

A ForTrevo tem atualmente cinco funcionários nos Açores, o grupo Joyn 23 (nas duas empresas) e a Bring já atingiu os 50. Todos admitem crescer, ainda que a pandemia possa dificultar as novas contratações.

“Estávamos em expansão quando tudo aconteceu e tornou a coisa um pouco mais complexa, mesmo em termos de entrevistas e de avaliar talento, mas temos ainda ideia de que até ao final do ano iremos expandir a equipa”, assegurou Olga Duarte, alegando que o objetivo inicial era “quase duplicar a equipa este ano”.

O último funcionário entrou para a empresa quase em plena pandemia, no mês de fevereiro, e mal teve tempo para conhecer o escritório.

“Nós já tínhamos entrevistado a pessoa, gostámos dela e não desistimos só porque sabíamos que o futuro iria ser um pouco estranho”, contou a administradora da ForTrevo.

A empresa já permitia que “uma vez por semana” os funcionários pudessem trabalhar a partir de casa, por isso a adaptação à pandemia não foi difícil, mas, ainda assim, permitiu que os funcionários pudessem levar material do escritório para casa, para garantir um maior conforto, e passou a fazer videochamadas todas as semanas, para manter a motivação.

“Temos uma chamada que está sempre ligada e quem se sentir sozinho pode-se ligar lá e dizer um bom dia, ver uma cara. Temos notado que muita gente lá aparece e faz alguma diferença”, adiantou Olga Duarte.

O escritório da Bring esvaziou-se antes de o Governo dar orientações nesse sentido e a adaptação ao teletrabalho foi “pacífica”.

“Para nós foi bastante natural, porque nós já tínhamos uma vasta experiência de trabalho remoto, fruto de estarmos a entregar projetos pelo mundo”, salientou Carlos Alves, alegando que muitas vezes é preferível os funcionários trabalharem a partir de casa, para conciliarem os horários com os dos clientes de outros países.

Também nas empresas do grupo Joyn, a adaptação foi “natural”, porque o teletrabalho já era um “hábito regular”.

“Não tivemos problemas. Em menos de um dia foi fácil indicar a equipa para no dia seguinte começar a trabalhar a partir de casa”, garantiu Jorge Pereira.

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