As mesmas perguntas, as respostas dos especialistas, a incerteza e as novas questões que poderão colocar-se ao longo do ano, de vacinas obrigatórias para viajar a passarmos a usar máscaras no inverno. Apesar das diferenças, há algum consenso: a partir do verão as nuvens da pandemia poderão dissipar-se. Até lá, manter cuidados.

1. Vai haver uma terceira vaga de covid-19?
2. Estamos a iniciar a vacinação. Quando iremos atingir a imunidade de grupo?
3. Até quanto vamos ter de usar máscaras na rua?
4. Quando poderemos decidir uma viagem e apanhar um avião para um qualquer destino sem pensar duas vezes?
5. Vai haver festivais de verão em 2021? Estádios de novo lotados?
6. Quando voltamos a dar beijinhos e abraços como antigamente?

 

Manuel Carmo Gomes
‘Não estou muito preocupado com a imunidade de grupo’

1. Vamos ter um aumento de casos agora em janeiro. Penso que não vai ser tão grande como o que tivemos em outubro, mas vai ser uma onda. Só vamos poder saber como se começa a formar no fim da primeira semana de janeiro. 2. É uma pergunta difícil. A variante inglesa que agora apareceu vem complicar as coisas. Ao ser mais transmissível, pode aumentar o valor do R. Portanto aqueles 60% a 70% de população que se estima ser necessário vacinar podem vir a ser 80%. Diria a seguir ao verão. Mas está dependente das vacinas chegarem e da variante não ter um impacto muito grande. 3. As máscaras serão necessárias até sentirmos que estamos a controlar a epidemia. Saberemos que estamos com a imunidade de grupo no dia em que, quando aparece um surto, tende quase naturalmente a desvanecer-se. Não vamos deixar de ter cadeias de transmissão, mas serão curtas. Será no fundo como no sarampo: como temos a imunidade de grupo pela vacinação, quando aparece um caso importado, pode haver um surto, mas não começam a aparecer casos de sarampo em todo o lado. Nesta doença não estou muito preocupado com a imunidade de grupo. Estamos diante de uma doença respiratória. O que é problemático são as hospitalizações e doentes em cuidados intensivos. Se a esmagadora maioria das pessoas nunca for hospitalizada, esta doença deixa de ser problemática. Queremos é chegar aí. E por isso, mesmo que não se atinja a imunidade de grupo e não eliminemos a doença, o que é muito difícil, se conseguirmos proteger os mais vulneráveis e evitar hospitalizações, resolvemos o problema. O vírus torna-se endémico, como a gripe, e o que temos de garantir é que sempre que há aumento de casos, os mais vulneráveis estão protegidos. Não acredito que seja necessário uma vacinação todos os anos como na gripe. Este vírus talvez ao fim de dois, três anos possa mudar ao ponto de ser preciso mudar a vacina. E aí poderá ser necessário revacinar os mais vulneráveis. 4. e 5. Viagens? Depende um pouco de como a situação evoluir na Europa. Na segunda metade do ano, espero que estejamos numa situação mais descontraída. Festivais no verão é possível. 6. Depende. Se na nossa família há pessoas mais vulneráveis, avós, é preciso saber se estão vacinados e como está a funcionar a proteção. Mas quando estiverem todos os grupos de risco vacinados, e assumindo que no verão estarão, penso que poderemos na altura voltar a dar beijinhos e abraços.

 

Carla Nunes
‘Seis meses no mínimo. Agora precisamos de manter as medidas’

1. a 6. Infelizmente, ao dia de hoje não tenho resposta para essas perguntas, com uma base científica. De uma forma muito geral, seis meses seria o período mínimo para qualquer uma das situações. As vacinas são obviamente fundamentais neste processo, mas ainda não estamos em tempo, com conhecimento, para responder a estas questões. Interessa assim realçar que precisamos de manter as medidas, que já todos conhecemos, por mais tempo.

 

Óscar Felgueiras
‘Creio que é possível evitar uma nova vaga de dimensão igual à segunda’

1. Creio que é possível evitar uma vaga de dimensão igual à segunda. 2. O Dr. Fauci disse há poucos dias que provavelmente a imunidade de grupo é atingida quando forem vacinados entre 70% a 90% da população, estimativa que me parece sensata. Provavelmente, até ao fim de 2021. 3. Até quanto é que vamos ter de usar máscaras na rua? Talvez até ao verão. 4. Viajar sem constrangimentos? Havendo segurança da eficácia da vacina, provavelmente já em 2021 para quem estiver vacinado. 5. Festivais de verão em 2021 e estádios lotados como dantes? Improvável. 6. Beijinhos e abraços como antigamente? Em 2022, para ser com qualquer um.

 

Filipe Froes
‘Mesmo vacinadas, as pessoas continuam a ter o dever de proteger os outros’

1. Não sei se será uma terceira onda ou um aumento de casos sem a segunda onda ter terminado, mas previsivelmente em janeiro teremos um aumento de caso, como consequência de maiores contactos nas festividades. 2. Depende da capacidade de abastecimento de vacinas e das pessoas aderirem à vacinação. Se tudo corresse normalmente, provavelmente a meio do segundo semestre de 2021. 3. Pelo menos até ao final do primeiro semestre, penso que poderemos usar máscara. Em função da  taxa de adesão à vacina, pode poderá começar facilitar-se, nomeadamente no exterior e nos contextos com menor risco. 4.  e 5.Vamos voltar lentamente a viajar. Mas temos de começar a pensar na maior pandemia desta geração que é a das alterações climáticas e se queremos manter todos os velhos hábitos. Cada vez mais o desafio será não apenas salvar-nos a nós mas salvar a casa comum. Recomendo o filme de David Attenborough: Uma Vida no Nosso Planeta. 6. À medida que as pessoas forem sendo vacinadas, nos seus ambientes pessoais, previsivelmente o afeto voltará a ter a importância que tinha anteriormente. Mas agora as pessoas mesmo vacinadas têm o dever de proteger os outros que não estão.

 

Baltazar Nunes
‘Não sabemos ainda qual vai ser a efetividade real da vacina’

1. É provável um aumento de casos em janeiro, não sabemos é qual será a sua dimensão. Na gripe sazonal, sabemos que existe um pico nesta altura do ano e também depois do período das festas em que as famílias estão mais juntas. 2. Dependerá muito de termos um programa de vacinação eficiente e da população perceber a importância da vacina. Para haver imunidade de grupo, a estimativa é que 60% a 70% da população tenha de estar vacinada, mas ao longo do tempo a população também vai tendo infeção natural e isso vai continuar a a acontecer. É possível que quando atinjamos 50% da população vacinada, combinado com a proteção da infeção natural, comecemos a observar um efeito na redução de incidência. A perspectiva será perceber isso e também se a imunidade de grupo vai ser duradoura ou sazonal. Se vamos chegar ao final do ano e esta população se mantém imune ou se há um decaimento da imunidade como existe na influenza e é preciso revacinar ciclicamente. A minha perspetiva otimista é que, à medida que o tempo passa, fique mais fácil conter a pandemia e sejam necessárias medidas cada vez menos intensas. No imediato, temos de mantê-las até perceber o efeito real da vacina, que é uma incógnita. Sabemos os resultados dos ensaios, mas a efetividade da vacina no terreno não sabemos qual é. Provavelmente a partir de fevereiro poderemos começar a ver efeitos de efetividade num menor risco de hospitalização e risco de morte, mas há a incógnita de não sabermos se a vacina também contribui para a redução da transmissão e iremos perceber isso à medida que houver mais dados. Uma coisa penso que se deve ter em conta: a economia não irá respirar da mesma forma enquanto a epidemia não estiver controlada e muito vai também depender o comportamento das pessoas. 3. As máscaras deverão deixar de ser usadas quando a situação estiver mais controlada, mas provavelmente nos invernos, em combinação com a vacinação nos grupos de risco, poderão fazer sentido para prevenir doenças respiratórias. 4. Penso que haverá uma retoma lenta das viagens, dependendo sempre para a onde se viaja. Admito que no início possa ser pedida em alguns casos a vacina como acontece nas viagens para alguns países onde existem outras doenças endémicas, mas não acredito que esse tipo de medidas se mantenha muito tempo. 5. Uma das regras em epidemiologia é que a nossa capacidade para fazer previsões a longo prazo é muito limitada. Claro que se a população tiver no verão uma cobertura vacinal elevada e a transmissão estiver controlada, poderão existir festivais, mas duvido que nas mesmas condições de anos anteriores. 6. Os beijinhos e abraços talvez comecem mais entre familiares, mas levaremos algum tempo a recuperar esse hábito. E diria se calhar mais no verão do que no Natal do próximo ano, que pode ser mais uma vez um momento  mais crítico. Se o vírus se tornar sazonal, o outono/inverno serão as fases de maior incidência e alguns dos comportamentos que adquirimos ao longo deste ano farão sentido nessas alturas. Sem entrar em grandes restrições da população, mas promovendo medidas de etiqueta respiratória, uso de máscara, distanciamento social, não ir trabalhar quando se está com uma infeção respiratória.

 

Ricardo Mexia
‘Começamos a ter relatos de pessoas que se infetaram nas festas’

1. Penso que teremos um aumento de casos em janeiro. Sabemos que foi o que aconteceu depois do Thanksgiving nos Estados Unidos e começamos já a ter relatos de pessoas que se infetaram nas festas. 2. a 4. Não é possível responder com certeza: não sabemos ao certo qual a proporção de pessoas que têm de estar imunes nesta doença para que haja uma proteção de grupo que diminua a incidência. Ao mesmo tempo, temos a incerteza sobre a velocidade a que vamos conseguir vacinar a população. Mais do que a imunidade de grupo, o fator determinante, também para o controlo da pandemia mas para haver condições para reduzir as restrições, passará pela imunização dos vulneráveis e dos mais expostos e quanto tempo levará a fazê-lo. Quando tivermos os mais vulneráveis e mais expostos vacinados, podemos ter um número até elevado de casos, mas se isso se não causar uma procura exacerbada de cuidados de saúde e elevada mortalidade, não será um problema. Jovens na casa dos 30 anos não estão isentos de risco, mas se em cada mil houver um que precisa de ter internado, sabemos que há outras doenças com a mesma severidade e será possível aliviar medidas com mais segurança. A minha perspetiva é que no verão possamos ver ser alívio nos hospitais. 5. Os eventos de massas são uma das minhas áreas de trabalho. Para 2021, tenho a expectativa de conseguirmos ter maiores concentrações de pessoas, mantendo cautelas. O problema em concreto com os festivais é que muitas das pessoas que são o público alvo não vão estar vacinadas na altura. Já houve algumas experiências de adaptar eventos desses género, por exemplo em Inglaterra com zonas delimitadas onde ficam grupos de cinco pessoas a assistir aos concertos, o que é diferente ainda do que tínhamos antes. Acredito ainda assim que será possível programar uma retoma lenta e gradual dessas atividades. 6. Penso que as viagens vão demorar um pouco mais temo a voltar ao normal, também porque a confiança das pessoas demora a materializar-se. Há pessoas que continuam a viajar, mas aquela dúvida sobre se alguma coisa muda à última hora pode manter-se. Sabemos que para alguns destinos é preciso levar vacinas, em alguns casos obrigatórias por lei, como é o caso da vacina da febre amarela. No limite, isso poderá ser um critério adotado por alguns países, mas apenas quando houver vacinas de forma mais massificada. Apontaria para que no verão tenhamos uma situação com maior folga. 6. Dependerá sempre da evolução da situação e das vacinas e da avaliação que cada um faz do risco. Quando a minha avó estiver vacinada, posso assumir que não representa um risco para ela. Pode representar para mim, mas isso ser um risco mais aceitável. Nunca estaremos numa retoma. O vírus circula entre nós e há-de sempre circular. A questão que temos pela frente é quando é que esse risco começa a ser mais controlável e aceitável e para isso vai ser preciso perceber o que acontece nos próximos meses.

 

Gabriela Gomes
‘Vai haver muitas vagas. O vírus vai ficar endémico’

1. Penso que vai haver muitas. O vírus vai ficar endémico, causando epidemias sazonais pelo Outono/Inverno. 2. Penso que a imunidade de grupo será conferida principalmente pela infeção natural e que no fim deste Inverno terá sido atingida. A vacina será um meio valiosíssimo de proteção, focada nas pessoas mais vulneráveis à doença e naqueles que as tratam. 3. Isso quem decide são os nossos governantes. Cada um pode ter opinião, mas aquilo que o governo decretar deverá ser cumprido. 4. No hemisfério norte, diria que no fim deste Inverno. No mundo todo, daqui por um ano. 5. Espero que sim. 6. Na Primavera.

 

António Silva Graça
‘2021 ainda vai ser um ano diferente’

1. É admissível que possa haver uma terceira vaga. Não vamos ter de imediato um efeito protetor da vacina.  Se houver um afrouxar das medidas, não só das restritivas que nos são impostas, mas mais importante ainda, da atitude individual, pode acontecer. 2. Em vez de falar de imunidade de grupo, pois existem dúvidas sobre que percentagem e população tem de ter anticorpos protetores, prefiro pensar em quando é que a vacina nos permitirá deixar de ter estes cuidados que se tornaram uma constante: máscara, distanciamento. Presumo que isso não irá acontecer antes do último trimestre 2021. Penso que provavelmente a diferença este ano vai ser não nos limitarem a mobilidade, deslocações. Penso que essa será ser a diferença nos primeiros primeiros trimestres, esperando que no final do ano possa haver mais alívio num ano que será ainda diferente. Igual aos anteriores talvez só 2022. 4. e 5. Sei que existe essa expectativa, mas não sei se haverá condições para isso. Implicaria uma postura individual e coletiva que não parece muito possível porque as pessoas estão cansadas. Estou ainda um pouco reticente. Com normas diferentes admito que sim, mas não já um regresso ao passado. 6. A afetividade continua a fazer parte da nossa vida e há abraços diferentes. Mas voltarmos a exprimir a nossa afetividade de forma espontânea como fazíamos não sei se voltará tão cedo e há coisas que poderão ficar da pandemia. Talvez seja mais fácil daqui para a frente as pessoas entenderem a forma como as infeções respiratórias se transmitem, que ciclicamente nos afligem, e possam prevenir que ocorram, usando máscara quando estão doentes. Era um estigma na nossa sociedade e pode ficar como algo positivo.

 

Pedro Simas
‘Vacinar a população toda é pôr uma pressão seletiva muito grande sobre o vírus’

1. É possível, principalmente neste primeiro trimestre. O risco de contágio é muito grande. 2. A imunidade de grupo não é a prioridade das prioridades. Quando atingirmos a imunidade de grupo, que exigirá os tais 70% da população imune, o vírus deixa de ser pandémico, mas continuará a circular. Até hoje só erradicámos um vírus. É importante vacinar os mais vulneráveis. Estando os grupos de risco protegidos, penso que à chegada ao final da segunda fase de vacinação teremos menos impacto nas hospitalizações e mortalidade. Devemos parar e ver o que está a acontecer em termos de pandemia no mundo, planear a terceira fase e não entrarmos logo em campanhas massivas de vacinação. Sendo o vírus endémico, penso que devemos ter algum cuidado e deixar a natureza seguir o seu curso, a par da proteção dos grupos de risco. Vacinar a população toda é pôr uma pressão seletiva muito grande sobre o vírus. Temos outros coronavírus a circular. Estes vírus evoluíram para causar infeção ligeira, causar pouca imunidade e infetar as pessoas de dois em dois anos. Com maior pressão, poderiam ter mais mutações que lhes dessem vantagem.3 e 4. Penso que quando acabarem as primeiras fases de vacinação vamos ter uma maior segurança e a partir do verão termos maior alívio, que permitirá alguma retoma. 5. Nas viagens, admito que possa haver um período de transição em que é pedido um certificado de vacinas. Vai ser um fenómeno global na Europa e vamos poder ver o que acontece nos outros países, se as vacinas estão acessíveis, quais os próximos passos. 6. Penso que quando houver essa garantia de uma maior proteção dos grupos de risco, poderemos voltar a fazê-lo. No próximo Natal espero que sim.

 

Nelson Pereira
‘Se estivermos protegidos para o próximo inverno já fico satisfeito’

1. Vai certamente haver um recrudescimento de casos. Não consigo antever exatamente o que vai acontecer. Penso que os casos irão crescer durante algumas semanas, mas neste momento o poder político está muito atento. Acho que as pessoas vão perceber que fizeram asneira, que foi um devaneio das festas, e que vão ter de voltar a manter-se mais cautelosas. Vai haver um aumento mas rapidamente será controlado. O único drama são os cuidados intensivos, porque ainda não conseguimos baixar dos 500 doentes e depende da dimensão do recrudescimento perceber o que acontece. Estivemos muito próximo, para não dizer no limite. Descemos um bocadinho, mas um aumento pode colocar uma forte pressão. 2. Se estivermos protegidos para o próximo inverno já fico satisfeito. 3. Máscaras na rua até lá. 4. Viagens, por mim, vou reservar para 2022. 5. Não sou frequentador, mas duvido que seja possível este ano. 6. Beijinhos e abraços, por enquanto, só em casa.

FONTE: jORNAL I

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